segunda-feira, 30 de abril de 2012

dia #43 - Carlos

Adorei passar pelo trecho da Avenida 9 de julho, quase chegando na Faria Lima, onde a copa das árvores cresceram de tal maneira que se encontram no alto, produzindo uma sombra que se prolonga por uns 200 metros, ou mais, e marcando a manhã dessa segunda-feira chuvosa com bucolismo.

Nos anos que trabalhei na Alameda Jaú e passava diariamente pela 9 de julho, nunca havia presenciado essas árvores como as encontrei hoje.

dia #43 - helô

a história do mané, o gato que não pisca, será publicada em um livro didático! eu sugeri e minha sugestão foi aceita, fiquei muito feliz!

andréa cozzolino, obrigada por me contar as peripécias malsucedidas do gatinho mais meigo desse planeta. :)

dia #42 - Carlos

Descobri, tardiamente, um livro e autor com quem, há tempos, eu poderia ter esbarrado em alguma livraria, sebo ou artigo de jornal. Mas como não temos controle sobre as coisas que a vida nos reserva para cada momento, acredito que essa foi a melhor hora para eu conhecer o gaúcho Charles Kiefer e a edição comemorativa de 30 anos do seu Caminhando na chuva.

Identifiquei-me com Túlio, o protagonista e narrador; e, consequentemente, sei que vou reconhecer muito de mim na infância ao longo das páginas que ainda não li.

***

Fico intrigado como alguns personagens, autores e livros aproximam-se de mim de tal maneira que passo a reconhecê-los como amigos e cúmplices, até se amalgamarem em mim, me construindo, me inventando, me tornando alguém diferente do que sou.

dia #42, helô

ganhei uma tagete hoje. uma mudinha com uma flor amarela e três botões que vão se abrir. mas não a ganhei de graça não. não foi um presente. tive de percorrer algumas jardas, colocar meu porte atlético em plena ação. tive de coordenar mente e corpo e todos os movimentos dos músculos. muita calma naquela hora: era pegar o papel, ler o nome, identificar a flor, pegar a muda e sair correndo. tenho vergonha de correr, acho que eu corro muito feio, mas faço tudo por uma flor.

sábado, 28 de abril de 2012

dia #41 - helô

ter a maior das paciências até que tudo comece a caminhar para, de fato, acontecer. meter as caras e fazer acontecer,  às vezes com um empurrãozinho fundamental para sairmos rolando por aí.

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desde o ano passado até hoje, tudo aconteceu para que eu chegasse à conclusão já conhecida de que nada nem ninguém muda porque a gente quer. nós sim nos mudamos se quisermos, e isso faz toda a diferença em nosso cotidiano.

***

valter hugo mãe estará na livraria da vila da fradique em um bate-papo na segunda-feira que vem, dia 7 de maio.

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gostei do que li:

"Em cada um de nós há um outro que não conhecemos." — Jung
"Pode ser que seja um bom dia; precisa ser tratado com cuidado." — Virginia Woolf
[na revista vida simples de abril.]

dia #41 - Carlos

“Uma pitada de poesia é suficiente para perfumar um século inteiro.”
Saramago

A frase acima, lida em uma camiseta pendurada num varal, estampa mais que o tecido; imprime no mundo uma solução eficaz, porém descartada, contra o mal-estar que nos consome e embrutece.

dia #40 - Carlos

Gosto de pessoas que são donas de risadas galopantes, que chegam a cavalo, sem anúncio nem pompas.

Encontrá-las amanhã (hoje) chega a dar ansiedade, ainda mais depois de uma semana na qual o riso e a alegria espontânea pareceram tomar rumos diferentes do meu.

dia #40 - helô

estou bem melhor e hoje fiz praticamente apenas coisas inúteis. esvaziei a mente, foi bom.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

dia #39 - Carlos

A mágica de hoje foi pensar em um contrafeitiço para aniquilar o quebranto que tem transformado os dias em cópias dos dias anteriores (ou, se preferir, não deixar que a sensação de que se dormiu no trabalho torne-se realidade).

Todo dia é o dia da marmota.

dia #39 - helô

de repente, o acúmulo de sentimentos, sensações, imprevistos, trabalho e, talvez, uma água contaminada me fizeram ficar caidinha hoje. fui parar no pronto socorro de um hospital. Quatro horas depois, fui atendida e saí de lá melhor. bem, você pode pensar: "que dia chumbrega!". e foi mesmo. mas hoje me lembrei dos votos que eu e o carlos fizemos no nosso casamento. e fico muito feliz por ter me casado com a pessoa certa em todos os sentidos; sempre ao meu lado, segurando minha mão, cuidando de mim, meu companheiro.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

dia #38 - Carlos

Ir ao velório de um ex-aluno que teve sua vida interrompida por uma dessas peças que a vida nos prega, quase me impediu de perceber no dia de hoje um momento mágico. Por outro lado, reconhecer o afeto e a amizade daqueles que dividiam seus sentimentos com os seus familiares e amigos, é inspirador para continuarmos a reconhecer na vida aquilo que ela tem de verdadeiro.

dia #38 - helô

uma pessoa tão jovem que vai embora de repente não é natural. é um choque tão grande que faz a gente mudar a perspectiva da vida. para que tanta coisa inútil, tanta complicação desnecessária? o que pode amenizar a dor de quem fica com uma ida assim repentina é saber que, mesmo com poucos anos vividos, a pessoa deixou sua marca em muita gente: doçura, caráter, amizade, generosidade, inteligência, alegria. então, temos de lidar com o repentino e pensar em viver o dia e ser o melhor que podemos a cada dia.
compartilho essa música que conheci a pouco tempo. e acho que ela resume tudo o que a gente deve querer nessa vida. a primeira versão é com a joan baez, porque sou fã. a segunda é com o bob dylan. a música é dele.






terça-feira, 24 de abril de 2012

dia #37 - helô

algumas pessoas têm se lembrado de mim quando veem coisas legais. ontem, recebi o link para uma música de édith piaf cantada por uma jovem francesa. hoje, recebi o link de um livro que propõe transformar espaços abandonados de nossas cidades em canteiros de flores, hortas e plantações de legumes. coincidência, lendo a vida simples desse mês, vi uma nota sobre essa ação não violenta em várias cidades do mundo, só mudava o nome. coincidências, para mim, são sinos que tocam. talvez esse seja um caminho a seguir.

dia #37 - Carlos

Darcy Ribeiro é, foi e sempre será um de meus heróis. Ler o prefácio de O povo brasileiro é reconhecer nesse homem uma coragem que só se encontra naqueles que transformam seus ideais em práticas, desafiando o conformismo e a descrença no “impossível”.

Dono de uma escrita fluida – mesmo quando se propunha a explicar aquilo que não é de fácil entendimento –, mas sem deixar que isso diminuísse o seu aspecto militante e provocativo, Darcy Ribeiro soa como alguém que fala algo importante diante de uma mesa posta no fim da tarde, onde os convidados se servem de quitutes da nossa terra e, sem cerimônias, o interpelam entre um capítulo e outro para que ele discorra um pouco mais sobre as tragédias e as maravilhas do Brasil. Resumindo, sua escrita é marcada pela paixão.

Hoje, enquanto fazia hora em uma livraria, folheei os relatos dos irmãos Villas Bôas sobre a Expedição Roncador-Xingu, publicados no livro A marcha para o Oeste, lançado pela Companhia das Letras. Para minha alegria, o texto de apresentação era do Darcy Ribeiro. Eu o li como se fosse um texto inédito, recém-escrito e publicado. Corria os olhos sobre as palavras, frases, parágrafos e lá estava eu, sentado à mesa com Darcy Ribeiro, reconhecendo nas suas palavras sobre os Villas Bôas, a paixão que o moveu ao longo de sua vida.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

dia #36 - helô


cheguei em casa e o trabalho estava me esperando. mas eu estava um pouco cansada e precisava ouvir alguma coisa antes de pensar em palavras. liguei o computador, porque o tempo de ócio era curto, e lembrei do download que fiz de um álbum que o catraca livre indicou semana passada. confesso que baixei o álbum só porque era de grátis e porque gosto de conhecer músicas novas e variadas. sambanzo, de thiago frança, a quem minha ignorância acabou de designorar e adorar e virar fã, é um mega álbum. ouçam e saculejem. eu saculejei sentada, mas saculejei! [clique no nome para fazer o download ou entre pela matéria do catraca livre. não se arrependerá.]

dia #36 - Carlos


“Dias chuvosos não me intimidam, aqui dentro – e bate no peito – tudo é festa.”

Escrevi isso um tempo atrás. Era a fala de um personagem que nunca criei. Ao longo do dia de hoje, essa frase me veio à mente muitas vezes.

Acho que não o criei porque ele já existe.

domingo, 22 de abril de 2012

dia #35 - helô

aos domingos, o macarrão da mama prevalecia junto ao frango assado. pelo menos era assim na infância dos meus pais e na minha própria infância, um dia de festa gastronômica acompanhado de guaraná antarctica. conversando com minha mãe esses dias, ela me deu a receita de um macarrão à bolonhesa que a tia terezinha, irmã da minha avó paterna, fazia aos domingos. testei hoje e, apesar de ter posto carne demais, ficou bem gostoso. deu até vontade e saudade de comer aquele sanduíche de festa junina chamado buraco quente, lembram? no meu molho faltou só o pimentão. hummmm...

dia #35 - Carlos

Eu sei que não existe comercial de margarina filmado em dias nublados, mas estou longe de achar que meus dias perfeitos são ensolarados. Prefiro os nublados e, se tiver garoa e fizer um friozinho, melhor ainda. Alguém pode se levantar contra mim para defender dias ensolarados... mas, convenhamos, existe coisa melhor do que sentir o peso das cobertas, passar o dia de pijamas, levantar para buscar alguma bebida quente e tornar a deitar?

sábado, 21 de abril de 2012

dia #34 - helô

além da menina que foi expulsa de algum óvini [sério] e veio parar na terra, conheci também uma menininha no provador da loja. ela deve ter uns sete anos e tinha experimentado um vestido todo de florzinhas rosa — que, segundo ela, era a sua cara. quando saí da cabine, ela dançava sem parar, rodopiando para ver a saia girar, saculejando que só ela, se divertindo a valer. a espontaneidade das crianças é a coisa mais bonita de se ver.

dia #34 - Carlos

Passear sempre nos leva a conhecer pessoas e, algumas delas, superam, e muito, os personagens da literatura, do cinema e das histórias em quadrinhos.
 
Hoje, eu e a Helô, conhecemos uma pessoa tão caricata, que, depois de um breve passeio na sua companhia, precisamos sentar, tomar um café e conversarmos sobre nossa nova “amiga”.

Foi divertidíssimo reconhecer que a vida cria personagens que superam a ficção.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

dia #33 - Carlos

Hoje teve reunião de pais no colégio. Eu esperava conhecer o pai de uma aluna que vive colaborando com as minhas aulas. Ele já enviou por intermédio dela, fotografias da São Paulo dos anos 50 e exemplares da revista O Cruzeiro, inclusive uma edição onde foi publicada uma foto dele dançando com uma de suas filhas.

Atendi a aluna acompanhada da sua mãe. Elas me falaram que ele não pôde comparecer, mas que havia me convidado para ir até a sua casa para um café. Agradeci o convite e disse que seria um prazer... Elas me falaram sobre uma estante repleta de antiguidades, um projetor e um filme de rolo, slides e as muitas histórias que ele irá me contar, inclusive algumas sobre a época em que ele trabalhou na revista O Cruzeiro e a sua relação com Assis Chateaubriand. 

Quando nos despedimos, sua esposa disse que irá fazer um bolo de fubá e passar um café para me receber... Quanta gentileza!

dia #33 - helô

o mundo do trabalho é um miniambiente com várias espécies. principalmente de chefes. "ah", você deve estar pensando, "lá vem a helô com as piadas infames!". calma, não é nada disso. é que na vida de autônoma eu tenho tido vários tipos chefes e trabalhado para vários tipos de editora e, claro, tenho colecionado pérolas que dariam para fazer um colar de pelo menos três voltas. poucas são as editoras para as quais eu prestei serviço que foram gentis e mandaram um cartão de natal ou um presentinho; pouquíssimas foram as editoras que enviaram pelo menos um exemplar do livro em que eu trabalhei; outro dia, vi um livro em que eu trabalhei duro e meu nome e o da minha chefe na época tinham sido tirados de lá sem ter havido mudança alguma na edição. mas hoje, cheguei em casa e tinha um pacote sobre a mesa. gostei. obrigada, novo conceito, por valorizar os colaboradores. imagino que façam o mesmo por seus funcionários. [o mesmo acontece sempre com a larousse/escala educacional, mas é que não aconteceu hoje...]







quinta-feira, 19 de abril de 2012

dia #32 - Carlos

Quando os alunos tornam-se serenos sem que a serenidade seja resultado da obediência às regras, aos professores ou aos regulamentos, a sala torna-se um espaço verdadeiramente destinado à construção do conhecimento, onde todos falam e são ouvidos porque reconhecem algo significativo na fala do colega.

Ver alunos, costumeiramente, agitados e inquietos, aceitando a proposta de um debate/diálogo por ele ser necessário, simplesmente, porque devemos dialogar com o mundo à nossa volta, é uma experiência muito diferente da prática rotineira de “dar aula”. É reconhecer que a sala de aula não deve ser escola, mas deve ser mundo.

Hoje, nessa aula, falei muito pouco. Me contentei em ouvir.

dia #32 - helô

hoje vi uma pessoa que eu admiro muito pela força, por seu amor à arte, pela gentileza, pela simplicidade, pelo talento, pela perseverança, pela generosidade... e, por estar poucos minutos perto dela, um pouco do meu desencanto com as pessoas foi embora. Obrigada, dona Maria.


dia #31 - helô

aprender que os tombos da vida podem ser levados com humor e música. saber que o mau humor dos outros pode contagiar, mas que uma boa risada me mantém uns dez anos mais nova. nada é tão urgente quanto fazem parecer, apenas a vida. riamos de nós mesmos.

Enriqueta e Fellini, por Liners.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

dia #31 - Carlos

Assim que chegamos ao trabalho e estacionei o carro, um bando de maritacas revoou acima das nossas cabeças, gritando e fazendo o maior fuzuê. Por um minuto contemplamos o céu e procuramos, entre os galhos e as folhas das árvores, o festejo indiscreto das aves, que, instantes atrás, bailavam no céu.

terça-feira, 17 de abril de 2012

dia #30 - Carlos

Dois momentos mágicos:

1. No país das caras e bocas, ouvir “gosto muito da sua aula” soa como música.
[não agradar a todos é muito comum. importante mesmo é agradar quem nos leva a sério, oferecendo-lhes aquilo que temos de melhor.]

2. Mônica Salmaso baixinho no fone de ouvido.


dia #30 - helô

o vento do outono saudou o fim do meu dia com promessas e revelações. o outono revela intenções e promete nos ajudar a discernir o que tem de permanecer e o que é folha caída.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

dia #29 - helô

sinto muita falta de são paulo. da multidão, da diversidade e, principalmente, do anonimato. achava que estava me tornando um pouco bicho do mato, meio avessa a aglomerados, mas tenho percebido que não. hoje me senti  paulistana e penso que as pessoas no metrô acharam que eu tinha cara de paulistana, pois algumas vieram me perguntar em que direção tinham de seguir, onde tinham de descer e fazer a baldeação... eu as respondi sem medo, quase já decorei todas as rotas e paradas. bem, o mais legal de hoje e de são paulo é que me reconheço no anonimato, me sinto eu no meio da multidão e, sobretudo, não uso máscaras para que me aceitem: apenas sou.

dia #29 - Carlos

Fui até a casa da minha mãe e levei o Lênin (meu cachorro) para uma volta na pracinha – uma rua sem saída no conjunto de casas onde moram meus pais. Enquanto caminhava, parei e assisti a um pouco da pelada que os meninos jogavam, com golzinhos feitos de chinelos. Na calçada do outro lado da rua, outros garotos esperavam “de próximo”, gritando e tirando sarro de cada passe mal dado.

Vinte anos atrás eu estava sentado na mesma calçada, esperando “de próximo”, gritando e zoando como aqueles garotos, deixando as vizinhas loucas e correndo cada vez que a bola “explodia” num portão.

Depois de um intervalo de uns 10 anos sem crianças no bairro (acho que quando começamos a crescer, houve um tempo em que não se mudaram novas famílias com filhos), vê-las novamente enchendo de vida a rua, como se fossem férias escolares, foi muito bom.

domingo, 15 de abril de 2012

dia #28 - helô

admiro a cultura e o modo que os nipônicos veem e vivem a vida. sempre tive amigos descendentes de japoneses, dizem que eu até rio como japonesa, hahaha! hoje fomos ao undokai do embu. chegando lá, na hora do almoço, fomos bem recebidos e logo nos mandaram nos servir. era um almoço comunitário, com mesas comunitárias e a comida era gratuita. um conhecido do carlos nos chamou para nos sentarmos à mesa em que ele estava. comemos bem e descemos para o pátio. no sol trincando de tão quente, houve a apresentação de uma dança de roda [quem souber o nome, me fale, por favor], depois uma apresentação de taiko e, então, recomeçaram as gincanas. desde senhores bem idosos até crianças pequenininhas, todos participam das brincadeiras. todos se divertem. todos conversam. todos contribuem para o sucesso da festa. todos se respeitam. dessa vez, o carlos e eu ficamos só olhando, mas fomos embora já fazendo planos de virar criança no dia 29 de abril, ansiosos para o undokai de itapecerica chegar logo.

dia #28 - Carlos

O domingo ensolarado deixou o undokai do Embu das Artes ainda mais bonito. Mas bonito mesmo é ver como as pessoas podem conviver coletivamente em harmonia. Até agora essa é a principal lição que os japoneses têm me ensinado.

sábado, 14 de abril de 2012

dia #27 - Carlos

Ouvir isso hoje fez toda a diferença:

“Meu professor de antropologia tem um parente que é biólogo e faz um trabalho de pesquisa com baleias. Ele senta numa pedra no alto da praia e aguarda que elas apareçam. Registra cada uma das aparições anotando a hora e se estão só ou acompanhadas. As aparições não seguem nenhuma regularidade, são aleatórias e espontâneas.”

Tomou ar e continuou.

“Assim também são os textos difíceis. Você senta, começa a lê-los e, só depois de algum tempo, começam a aparecer as ‘baleias’. Numa segunda leitura, surgem ‘golfinhos’, e as visitas deixam de ser aleatórias.”

Mesmo sem estar sentado diante da praia, ou com um livro nas mãos, hoje fui visitado por muitos golfinhos.

dia #27 -helô

o dia começou chuvoso. gosto de dias chuvosos: as pessoas ficam mais calmas, os carros andam mais devagar, os pneus na estrada fazem música. mais um sábado de estudo, chegamos cedo em são paulo. depois de tomar café, fui andando até o prédio da escola. é um pouco longe, mas nada como uma caminhada pra acordar. logo no início da caminhada, um moço olhou bem pra mim e exclamou "feia!". lembrei do palhaço magro da paulista que xingou minhas duas amigas e eu de fdps, porque não quisemos comprar ingressos para uma peça em que ele era o ator principal [talvez não fosse o protagonista, mas agiu como se...]. aquela situação foi tragicômica: de estrelas de hollywood a fdps no tempo de um farol. mas hoje, o "feia" dito pelo moço alto e magro, sem cara de palhaço, colocou um sorriso no meu rosto: eu estava me sentindo bonita de verdade e feliz por me sentir assim.

dia #26 - Carlos

Antes de eu me tornar professor, achava uma vantagem da profissão suas duas férias anuais. Hoje, sabendo que o meu ofício nunca acaba com o fim do expediente, estou mais do que convencido da necessidade dessas férias, principalmente quando sentimos o esgotamento mental que semanas como essa (correção de provas, preenchimento de diários, faltas, fechamento de médias, aulas, correção de apostilas...) nos causam. Mas não somos só nós, professores, que terminamos a semana estafados. Os alunos também não conseguem esconder a fadiga.

Depois de duas aulas fazendo uma prova, meus alunos estavam com a mesma cara que nós ficamos no fim do expediente de uma sexta-feira. Recolhi a prova aplicada por outro professor, olhei o relógio e vi que dava tempo. Procurei uma bola e desci com as crianças para o campão.

Eu precisava daquele ar, eles também. Meninos e meninas chutavam a bola sem se preocupar em marcar gol. Era risada, chute e a turma toda indo de um lado pra outro feito cardume.

Numa dessas idas atrás da bola, flagrei o goleiro sozinho na área. Sem se incomodar com a solidão momentânea, ele começou a dançar, cantar e brincar...

Me encheu de alegria ver as crianças fazendo o que elas sabem fazer de melhor.


sexta-feira, 13 de abril de 2012

dia #26 - helô

gosto de novelas bregas. adorei "tititi" quando era criança, também adorei o remake e não perdi um capítulo. adorei "ugly betty", com toda aquela kitschaiada de cenário e aqueles personagens absurdos. gostei de partes da novela "aquele beijo", que foi brega desde o início e teve um final bollywoodiano de quinta. nesta novela, o narrador onisciente citava frases de escritores em cada final de capítulo, o que a tornou uma novela meio-brega, meio-intelectual, um misto de broadway e "provocações". hoje foi o último capítulo dela e o narrador citou o discurso de "o grande ditador". nessa consulta à memória, a genialidade de chaplin não saiu da minha cabeça. então, vou citar aqui um trechinho que resume tão bem os nossos tempos modernos e que sempre me fez refletir.

"[...] Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo — não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar ou desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades.

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma do homem... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, emperdenidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas duas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido. [...]"

quinta-feira, 12 de abril de 2012

dia #25 - Carlos

Eu, que tenho o hábito de duvidar das coisas, nunca me convenci de que horóscopo publicado em jornal e revista fosse crível.  Por outro lado, acredito em numerologia e astrologia... mas dar credibilidade a um horóscopo diário, ou semanal, já é demais. Juro que tentei. Li meu horóscopo na Folha de S.Paulo por uns três dias. Era cômodo, ficava ali, pegado à tirinha do Angeli. Mas acabei transformando o exercício de tolerância em piada. Tuitava as “coisas estúpidas que o horóscopo me manda fazer...”. Sem paciência de ler diariamente o horóscopo, nem piada com ele eu aguentei fazer. Deixei de lado.

Até que, hoje, me cai na mão uma revista Caras (sim, eu tenho preconceito com a revista Caras). Li o meu signo e o ascendente. PQP, impressionante! Poderia ter sido tirado do meu diário, se eu tivesse um. Coloquei aí embaixo o signo e o ascendente. Isso traduz o meu dia, pode acreditar.

GÊMEOS
"... inicia uma fase de movimento e iniciativa. Fique esperto para colocar adiante seus projetos, em especial aqueles com os quais mais sonhou e despendeu tempo e energia. Boa sorte."

AQUÁRIO
"Os tempos começam a se tornar mais favoráveis, ainda que precise ter alguma paciência para perceber isso na prática. A questão, nesta semana, é dar conta definitiva de tudo que estiver pendente, ficando assim cada vez mais livre para o que o futuro vai apresentar." 

dia #25 - helô

tudo na vida tem uma primeira vez. é o que dizem. depois da tempestade, a calmaria. é o que dizem. não há problema que não se resolva, só a morte não tem solução. é o que dizem. pois hoje eu comprovei que o que dizem é verdade. depois de ontem, hoje foi um dia mais calmo, cheio de soluções e fim de pendências.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

dia #24 - Carlos

Na cozinha, o cheiro de pão fresco transformou a noite em manhã.

dia #24 - helô

o que tem de bom em um dia em que você recebe uma carta indesejada? eu diria "na-da" e "na-da" novamente, sem ser redundante. quem é que nos manda cartas hoje em dia? vou enumerar os possíveis destinatários: bancos; contas diversas; propaganda política; cartões de natal com boletos bancários para você pagar; a receita federal; a seleções digest falando que você ganhou um concurso, ou foi selecionado para escrever algo, ou ganhou barras de ouro; o detran; cartões de crédito que você não pediu. bem, consegui me lembrar apenas desses. um dia em que o corre-corre não te deixa trabalhar e te premia com uma dor de cabeça no final dele, não tem preço. esses também nos mandam cartas.
mas esse blogue é sobre coisas mágicas, e coisas mágicas são raras. então, vamos lá, ao ponto alto do meu dia! ouvi muitas piadinhas engraçadas e houve um fato que não contei aqui na segunda. ganhei , muito gentilmente, um pote enorme de doce de leite, i.e., meu doce preferido. então, hoje, nesse dia amargurado, cheguei em casa e fiz tapioca recheada com doce de leite importado de minas. e, por ser um presente e o melhor doce que existe, adoçou o meu dia.

terça-feira, 10 de abril de 2012

dia #23 - helô

na estação do metrô, descendo as escadas rolantes, o vento me empurrava para a frente com tal força que parecia que tinha um ventilador megamaster nas minhas costas. cabelos tampando os olhos, lembrei de uma professora que, de tão magra, foi levada pelo vento quando estava no canadá. agradeci pelos quilos a mais e fiquei sentindo a força do ar.

então, como o tufão que passou pelo Kansas e levou a menina para Oz, o vento me acompanhou no caminho dourado e trouxe uma memória sempre viva da minha infância. fantasia ou realidade, com 4 anos eu voei. nós morávamos na rua Sócrates, eu estava brincando sozinha na sala, pulando em um sofá, e pensei forte: vou voar até o outro sofá. ninguém testemunhou a peripécia, mas eu consegui, tinha levitado. passarinhei. 

a sensação de liberdade, de não ter olhos me julgando, mas sim convivendo, me fez passarinhar hoje também.

dia #23 - Carlos

A atividade intelectual, por mais que digam o contrário, para mim é uma aventura. Desbravar os “mistérios” do mundo, caminhar rumo ao desconhecido e, ao atingir o destino, dar-se conta de que a viagem apenas começou ou não serviu para nada além da descoberta de que o caminho tomado foi um equívoco, é mais prazeroso (repito, para mim) do que muitos pacotes de turismo de aventura.

Alguns preferem não encontrar dúvida no fim do trajeto – o mundo construído em terreno movediço não agrada intelectuais (e todos os demais) que se concebem como possuidores de saberes verdadeiros e, consequentemente, inquestionáveis –, o que, costumeiramente, acarreta uma tremenda falta de interesse por assuntos que não tratem de questões individuais e imediatas. Essa falta de interesse acaba provocando em mim novos mergulhos nos livros e em esparsas conversas com pessoas interessadas em dialogar sobre tudo o que é de interesse coletivo e sem solução a curto prazo, sem se sentir importunada ou fazer aquela cara de que você a está chateando com assuntos que não a interessam – considerando isso, ser professor é um privilégio. A sala de aula é um ótimo lugar para conversarmos sobre todas essas questões e mudarmos a práxis.

Bem, antes que eu estenda demais o assunto, e o pessimismo possa tomar corpo, sair das entrelinhas, acabar com esse texto e com a beleza do dia #23, vamos direto para onde reside a magia do meu dia. Hoje, enquanto dialogava com o jornal sobre todos esses temas que costumam importunar as pessoas, como dito acima, li a coluna semanal do Vladimir Safatle (link) e encontrei nele a conversa que já tentei ter com alguns, mas que acabou por não se tratar de interesse individual e imediato. O texto provocou em mim uma sensação reconfortante. Além de eu achá-lo o melhor texto do Safatle publicado na Folha de S.Paulo, ele reforçou em mim a certeza de que os combates pela história e pela memória continuam sendo travados diariamente e, mesmo que eu me sinta muitas vezes sem um companheiro de armas, eles existem, atuam e continuam mantendo viva a certeza de que a história tem muitos tempos, e que algumas batalhas, mesmo sendo de longa duração, não deixarão de serem lutadas.

dia #22 - Carlos

A sensação mais reconfortante do dia foi soltar o corpo pesado de sono e cansaço na cama, e sentir, pouco a pouco, os olhos se fecharem e confirmarem que isso, naquele instante, era tudo o que eu precisava.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

dia #22 - helô

ônibus é um lugar em que sempre cabe mais um. no calor, mesmo com as janelas e os "respiros" no teto, faz calor. calor humano. depois que me mudei de cidade, tenho preferido o ônibus e o metrô ao carro. moro muito longe, tem muito trânsito na estrada e na cidade, fora a violência no trânsito. mas eu tenho sorte, pois sempre consigo um lugar para me sentar [sei que isso ajuda]. bom, tanto blá-blá-blá para dizer que tem um hábito que adquiri no ônibus e o acho a maior prova de gentileza e confiança. você está lá, sentado, e vê uma pessoa carregada com uma bolsona ou mochilona, casacão, guarda-chuva. a pessoa se aproxima e você, então, pergunta: "quer que eu segure?". sem titubear, a pessoa agradece e entrega suas coisas para que você as segure. gentileza e confiança.

domingo, 8 de abril de 2012

dia #21 - helô

minha sogra, como diz minha mãe, pinta, borda e dá cambalhotas. a dona ângela, sagitariana da gema como eu, tem um coração enorme, mima todos que ela gosta [com ênfase no "gosta"] e sempre diz o que pensa, é autêntica. hoje fomos comemorar a páscoa com ela, meu sogro e a tia marina. como sempre, comemos as comidas deliciosas que ela prepara [a tradicional bacalhoada pascalina e uma salada de grão-de-bico com lascas de bacalhau, hum?], vimos as coisas bonitas que ela faz em seu parco tempo livre, conversamos muito e sobre tudo, e saímos de lá repletos de alma e de corpo. se sentir em casa quando não se está em casa, acho que isso é mágico.

dia #21 - Carlos

Depois de uma mesa farta, barrigas cheias e um cheiro de café que paira na cozinha e na sala, as histórias chegam, tomam lugar à mesa e preenchem a tarde. Arrancam riso, lágrimas e lançam os que não as viveram, no tempo e no espaço construído pelo fantástico, pelo maravilhoso.

“Diziam que qualquer um que andasse ao lado direito da mãezinha, como era chamada a sua bisavô, em dia de chuva, não se molhava!”

“(!)”

sábado, 7 de abril de 2012

dia #20 - Carlos

Ler o jornal sem pressa, bebericar um café fresco e quente, compartilhar uma notícia, fazer planos para o dia e sair sem colocar o relógio no pulso.

Apesar de tudo isso soar um tanto burguês, são pequenos prazeres dos quais, sempre que possível, não devemos abrir mão, ainda mais quando passamos a semana queimando a boca com o café que o tempo nos obriga a tomar em longos goles, lendo as manchetes do jornal com a mesma atenção que damos ao tubo da pasta de dente ou ao saco de pão, e olhando o relógio quando o elevador para no andar de baixo e as pessoas, felizes, conversam segurando a porta.

dia #20 - helô

acordar sem ter hora marcada, comer fora, passear, ir ao cinema [vejam "xingu"], tomar um cafezinho e... voltar para casa. é bom sair, mas voltar para a nossa casa é ainda melhor.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

dia #19 - Carlos

Presenteei meu pai com o DVD O Milagre de Sta. Luzia. Nele, mais de um sanfoneiro confessa que a sanfona é alimento, remédio e parte de si.

Assistimos juntos ao documentário.

Entendi porque meu pai, desde que eu me entendo por gente, toca diariamente sua sanfona, e, quando não toca, fica mal-humorado, pouco dado à conversa.

dia #19 - helô

quando parei de tomar café por causa de uma dieta alimentar, me descobri muito apegada a ele [viciada mesmo, :)]. fiquei sem ânimo, quase deprê, com dor de cabeça, dor no corpo, sem concentração para trabalhar e nem conseguia ouvir as pessoas direito. sabem zumbi? então... virei uma por 17 dias.
graças aos meus pedidos e minha cara de acabada, fui liberada a tomar café. meu velho companheiro foi recebido com festa interna. para mim, o café é a bebida que mais congrega as pessoas, que mais desperta a vontade de compartilhar histórias. quem fala mal do café geralmente é chato, podem perceber. e quem não gosta do cheiro de café? como assim? e essa bebida mágica, que desperta conversas, confissões, ânimos, cura ressacas de todos os tipos e mantém amizades vivas, fez parte, pela enésima vez, do momento mais feliz do meu dia.
p.s. - depois da falta que me fez, vou até querer uma camiseta do "eu <3 café" para sair por aí declarando esse meu amor ao mundo. ;)

quinta-feira, 5 de abril de 2012

dia #18 - helô

foi o conto "o peru de natal", do mário de andrade, que despertou em mim a vontade de saber como uma pessoa conseguia escrever algo com que eu me identificava tanto. como ele, tantos anos antes de eu nascer, já sabia alguns de meus segredos, de segredos de pessoas da minha família? como havia lido meus pensamentos? com certeza, se tivéssemos vivido na mesma época, eu nutriria uma paixão platônica pelo mário de andrade. talvez eu até fosse mais uma anita malfatti na vida dele, de tanto que o admiro.
um dia, a kelly me contou que seu marido queria publicar sua dissertação que tinha como tema mário de andrade. arregalei o coração e logo liguei para a selma, na humanitas, para ver quais eram os trâmites de publicação por lá. ela disse que ele precisaria de uma carta de recomendação. perguntei o que achava de eu falar com o professor ceschin, e ela me disse que achava que era legal.
escrevi para ele com a maior cara de pau que os deuses me deram, fazia mais de sete anos que nem ao menos eu dera as caras na faculdade para falar um oi, nem para agradecer algumas palavras que ele me presenteou e que fizeram eu me olhar de maneira diferente. como sempre, e não poderia ser diferente, ele foi muito receptivo, delicado, se dispôs a ler o trabalho e me disse para esperar um pouco. o professor ceschin é um senhor professor doutor da usp que sempre conversou de igual para igual conosco, pobres mortais alunos, e sempre nos incentivou e nos colocou para cima. ele é uma pessoa simples de alma, o que é raríssimo de se encontrar, principalmente no meio acadêmico. hoje ele me escreveu, pedindo para entrar em contato com ele depois do dia 13 de abril. e terminou com um "p.s." que preciso dividir com minha amiga poeta: "O livro da Lilian está magnífico!".

dia #18 - Carlos

– Tio, tio... – uma mãozinha puxou meu jaleco. – Eu vi um coelhinho da páscoa de verdade!
– De verdade? – a dúvida, que eu não consegui disfarçar na voz, fez com que o menino saísse me puxando pelo corredor, abrindo portas e olhando cada canto em busca do coelhinho da páscoa de verdade.

Ele não mentiu. Lá estava, na sala dos professores, nos braços da coordenadora, um coelhinho de verdade. Um coelhinho de verdade da páscoa.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

dia #17 - Carlos

Essa semana assisti a um filme alemão chamado Cerejeiras em Flor. Delicada e profunda, a história é contada sem pressa, convidando o espectador a repensar sua relação com o tempo e com a vida.

Romper com a ideia de que a vida está sempre disposta a ofertar mais tempo para realizarmos aquilo que deixamos para depois é uma atitude corajosa, principalmente se alcançarmos o entendimento de que a vida não nos espera, mas nós temos que persegui-la ininterruptamente.

dia #17 - helô

encontros e reencontros. tudo começou com o edgar, uns dos meus chefes que me envia trabalhos bem legais. depois, vieram a lu e a kelly, pessoas muito especiais com quem eu só havia falado por e-mail em um projeto no qual não me encaixei. quando nos conhecemos, vimos que estávamos na mesma sintonia, borbulhando de ideias e estudando caminhos para colocá-las em prática. hoje, depois que acordei com os olhos grudados e descobri que sou alérgica ao cloro da piscina [como, depois de tantos anos?], para a miiinha alegria [hehe] recebi um e-mail muito simpático da viviane, uma ligação com gosto de projetos bem-fundados da kelly e outras ligações da simone, de quem eu voltarei a ser companheira de trabalho por um tempo e com quem sempre ri, troquei figurinhas e aprendi muito. reencontros e encontros.

terça-feira, 3 de abril de 2012

dia #16 - Carlos

Esqueci que falavam comigo e acompanhei do alto do campão o voo de um pássaro que planava livre, desimpedido pela ausência de qualquer obstáculo... Livre? Pouco depois passou uma ave de rapina. Os alunos confirmaram... era um gavião.

A liberdade, mesmo depois de conquistada, pode vir a ser usurpada. Para que isso não ocorra, é nosso dever atentarmos para as coisas corriqueiras, supostamente insignificantes.
São nessas horas, quando descuidamos daquilo que nos é caro, que costumamos perdê-lo. Reconhecendo o valor dessas pequenas conquistas, trataremos de lhes dar o cuidado devido, lutando e resistindo dia a dia para que elas não nos sejam arrancadas de maneira sutil.

A vida ensina.

“... uma das primeiras coisas a compreender é que o poder não está localizado e que nada mudará na sociedade se os mecanismos de poder que funcionam fora, abaixo, ao lado dos aparelhos do Estado, a um nível muito mais elementar, quotidiano, não forem modificados.”
Foucault

dia #16 - helô

um dia difícil, mesmo, terminou com uma conversa que fez o tempo passar sem ser sentido. cada vez mais percebo que se há respeito, diálogo e ouvidos, em todos os tipos de relacionamentos pessoais, nada mais é preciso, apenas viver.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

dia #15 - Carlos

Minha mãe comemorou ao telefone quando lhe disse que íamos passar o almoço do domingo de Páscoa juntos. E eu comemorei quando ela me disse que a vizinha ia fazer vatapá e caruru, dois pratos da culinária baiana que aprendi a gostar com minha avó, que era baiana, e com a Dona Inez, a vizinha da minha mãe, que, antes de se tornar evangélica, nos oferecia essas delícias nas festas de São Cosme e Damião, que fazia todo o ano para sua filha deixar de ver os erês.

Foi uma delicadeza sem tamanho a vizinha da minha mãe se lembrar de mim dessa maneira, justificando que, já que não tenho mais minha avó para cozinhar essas maravilhas, ela levaria um prato para mim.

São coisas como essa que humanizam nossos dias e nos fazem esquecer a falta de trato dos brutos.

dia #15 - helô

há pouco tempo, tomar decisões que interfeririam na vida de outras pessoas me dava o medo da culpa. há muito pouco tempo mesmo. tem sido um processo colocar limites no meu quadrado. a última dessas decisões tomei na semana passada. hoje, a explicitei com a maior calma que os deuses me deram. estou me sentindo leve.

domingo, 1 de abril de 2012

dia #14 - Carlos


(Aviso: o texto de hoje é um devaneio... pura divagação.)

Existem muitos mistérios dos quais não nos damos conta e outros que, quando nos damos conta, não sabemos explicá-los. Eu, por exemplo, sempre acho que as coisas que acontecem na minha vida fazem parte de um destino controlado [por mim, mesmo quando eu não noto que o estou controlando]. Deixa eu explicar melhor. É como se a vida tivesse um roteiro, mas eu improvisasse em cima dele. Talvez esse roteiro possa ser chamado de aptidão [disposição adquirida – não confio muito nesse papo de talento inato, prefiro acreditar que todos possuem condições para o aprendizado e o desenvolvimento]. As aptidões que adquiro ao longo da vida ditam os interesses que vão me movendo adiante. Ok, até aqui não há mistério algum. E quando as aptidões te levam a praticar algo que será pré-requisito para outra coisa que você vai fazer no futuro e, portanto, ainda não sabe? Aí entra a mágica, o mistério, o curioso...

Mas por que tudo isso hoje?

Bem, é que minha professora pediu um diário para o trabalho de campo. Observações, anotações, reflexões... Tudo deverá ser anotado.
A disciplina necessária para manter um diário já não vem sendo praticada há 14 dias aqui no blog? Nisso eu não improvisei, foi mistério mesmo.

dia #14 - helô

por que crianças adoram a páscoa? acho que por três motivos: a expectativa da caça ao ovo, comer chocolate sem levar bronca [mas agora talvez o brinquedo seja o mais importante] e os tetos cheios de ovos de páscoa em lojas e supermercados!
uma menina de uns 4 anos pediu para seu pai pegá-la no colo para ela passar os dedinhos nos ovos. ela estava deslumbrada e seu pai, para dar mais diversão a ela, começou a dar pulinhos. a loja estava lotada, os corredores eram bem estreitos, as pessoas faziam cara feia, falavam abobrinha e os dois gargalhavam, transportados para um lugar em que só o deslumbramento existe.
então a espiral da memória se apossou de mim e me transportou para o tempo em que cabaninhas da mônica, cabaninhas debaixo da escada, cabaninhas de lençol e túneis de ovos de páscoa me levavam, também, até o deslumbramento.