sábado, 31 de março de 2012

dia #13 - helô

sorte minha trabalhar com o que eu gosto.

na livraria havia um montão de livros com o meu nome. um mais bonito que o outro, com umas capas lindas. e meus olhos marejaram e marejam sempre, mesmo depois de 12 anos. cada vez que trabalho em um livro, seja ele um divertido bestseller, um apetitoso livro de gastronomia, um lindo livro infantil, uma hq superlegal, um livro de arte cheio das sensibilidades dos artistas, um livro de filosofia denso e profundo, deixo um pouquinho de mim neles e recebo em troca um montão de coisas. tenho muito orgulho de participar do processo de feitura de livros e, quando os vejo prontos, por mais que seja um clichê, meus olhos marejam porque sinto que participei do nascimento de algo que vai mudar a vida de alguma pessoa. 

sorte minha poder trabalhar com as palavras.

dia #13 - Carlos

Terminar o dia que começou às 5h30, ganhando presentes inesperados e fazendo caretas diante da máquina fotográfica é sinal de que, por mais agitados que sejam os dias, eles podem ser leves e agradáveis.

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A semana que marcou novos começos, e pontuou fins de parágrafos inacabados, me presenteou com um sábado prazeroso.

Praticar as verdades que acreditamos e pregamos é o melhor caminho para uma consciência tranquila.

sexta-feira, 30 de março de 2012

dia #12 - helô

hoje ganhamos uma gaiola da minha prima aninha. vamos colocar a clara, mas talvez juntemos os dois novamente. quando o carlos a colocou na lavanderia, os bichinhos se assustaram e levantaram o penacho. o chicão até antes de dormir ficou desconfiado de que tinha outro passarinho lá [verdade]. todo empertigado, ficou defendendo sua área, até que dormiu.

***

é muito bom quando você tem certeza de que quem você ama vai longe.

dia #12 - Carlos

Durante uma aula inteira, ouvi com meus alunos faixas de cd’s de jazz dos anos 20, 30 e 40, pesquisadas e trazidas por eles para o colégio. O movimento espontâneo que algumas canções provocaram nos alunos, me encorajou a autorizá-los a dançar. Alguns dançaram, e, mesmo de brincadeira, foi bonito de ver.

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Assisti a um ensaio de um grupo que toca taikô. A beleza dos movimentos e a força do som produzido por esses tambores japoneses é impressionante.

quinta-feira, 29 de março de 2012

dia #11 - Carlos

Visitei pela primeira vez, acompanhado dos meus alunos, a Casa do Bandeirante, no Butantã. Gostei muito do passeio e, principalmente, da maneira como o bandeirismo foi tratado pela educadora que acompanhou a visitação – desconstruindo mitos e tratando as curiosidades históricas não como “perfumaria”, e sim como temas pertencentes a processos históricos.

Em um dos cômodos da casa, durante a explanação da educadora, me perdi numa imagem do Debret que retrata a escravização de índias guaranis por bandeirantes paulistas. A naturalidade com que a violência é tratada pelos bandeirantes pareceu-me tão real naquele instante, que me senti testemunha ocular de um fato que não presenciei.

Pela segunda vez nessa semana, uma imagem me serviu de portal para outro tempo e espaço.

Sauvages civilisés soldats indiens de la province de la Coritiba, ramenant des sauvages prisonnières. Debret, Jean Baptiste, 1768-1848.

dia #11 - helô

ainda permeada pelas meninices de manoel de barros, vi que o vasinho que eu tinha abandonado milagrou de suculentas e florzinhas lindas que algum passarinho plantou [só tinha capim-santo seco aí, minha gente!]. :)

quarta-feira, 28 de março de 2012

dia #10 - Carlos

Tenho um amigo de cinquenta e tantos anos que está lendo pela 16ª vez o mesmo livro. Pelas contas dele, ele relê o livro a cada dois anos e meio. Como eu o conheço a pouco mais de dois anos e meio, estou acompanhando pela segunda vez a sua releitura.
Hoje estive com ele e, antes de nos despedirmos, perguntei do livro. Ele encostou na mesa querendo prosa e definiu assim a experiência de ler o livro mais uma vez: “Emocionante!”.

Mas emocionante mesmo foi ele ter me confessado um sonho.
- Sabe, eu tenho um sonho. Se eu tivesse muito dinheiro, comprava os direitos autorais da família do Mário Palmério.
- Mas o senhor compraria com qual interesse?
- Eu ia filmar o Chapadão do Bugre como ele merece! Seria inteirinho filmado em Passos, onde se passa a história. Se eu pudesse, faria o mesmo com Tocaia Grande, do Jorge Amado.
Encostei também, convencido do valor dessa prosa.

Como é bom encontrar pessoas, ainda mais com a idade desse meu amigo, que não permitiram que a vida lhes tirasse o prazer de sonhar e compartilhar o sonho.

dia #10 - helô

só dez por cento é mentira é um documentário que mostra um pouquinho do manoel de barros, poeta que nasceu em corumbá. um dia será meu presente de natal para todos que eu gosto. hoje estava lendo uma coluna antiga do rubem alves intitulada "chá de infância" e lá estava citado o senhor manoel.

"O que eu queria fazer era brinquedos com as palavras. Fazer coisas desúteis. Eu queria avançar para o começo. Chegar ao acriançamento das palavras. Preciso de atrapalhar as significâncias. O despropósito é mais saudável que o solene. Para limpar as palavras de alguma solenidade — uso bosta. Nasci para adminstrar o à-toa, o em-vão, o inútil. Prefiro as máquinas que servem para não funcionar: quando cheias de areia, de formiga e musgo — elas podem um dia milagrar de flores. Também as latrinas desprezadas que servem para ter grilos dentro — elas podem um dia milagrar violetas. Senhor, eu tenho orgulho do imprestável."

vamos todos tomar chá de meninice com o menino manoel?

terça-feira, 27 de março de 2012

dia #9 - Carlos

Parado no trânsito de São Paulo, olhei para o lado e vi, na pista do sentido contrário ao meu, um jovem num Peugeot prata com os vidros da frente abaixados, cantando a plenos pulmões, com direito a caras, bocas e trejeitos de cantor de caraoquê. O motorista do caminhão que estava parado ao lado dele transformou a boleia num verdadeiro camarote, de onde assistia a tudo com visão privilegiada. Sem conter o riso, ele olhava para o companheiro de boleia, que não conseguia enxergar nada, mas o acompanhava na risada. Abaixei o volume do rádio, desci o vidro e me esforcei para ouvir a música que o rapaz ouvia e cantava. Duas motos passaram zunindo no corredor formado entre os carros, o carro da frente andou e eu fui forçado a engatar a primeira marcha, frustrando minha curiosidade. Quando dei por mim, estava eu com um sorriso no rosto, achando graça do motorista e rindo de mim mesmo – ridiculamente curioso.

***

Depois do almoço, dei uma volta numa galeria para fazer hora até a minha segunda consulta médica do dia. Achei um sebo pegado num café (sugestivo, não?). Na vitrine do sebo, uma meia dúzia de livros do Chico Anísio, inclusive o Carapau, que citei aqui no dia #5. Entrei, perguntei sobre o livro e o dono disse que o chamaram de oportunista por ter feito uma vitrine com as obras do humorista morto. Ele disse se tratar de uma homenagem (?). Conversamos sobre a genialidade do falecido, a sua importância para o humor brasileiro, blá, blá, blá e chegamos à conclusão que nem eu, nem ele, gostamos de stand up. Por fim, pechinchei e arrematei o livro por R$ 5,00 – primeira edição, ótimo estado, capa desenhada pelo Ziraldo, orelha escrita pela Jorge Amado e prefácio assinado pelo Orígenes Lessa (vai dizer que você não compraria?).
Olhei o relógio. Sentei no café, tomei um espresso e li dois capítulos que me arrancaram sorrisos que disfarcei – um dia eu terei a coragem do cara do Peugeot.
Na hora de pagar, me perdi numa bela fotografia de um café de Paris pendurada na parede (encontrei uma idêntica na internet, que coloquei abaixo). Se a dono do café não me chamasse até o caixa, acho que continuaria na Paris dos anos 50 que a foto evocava.


dia #9 - helô

minha meta de hoje era: sentar à mesa de trabalho e só me levantar quando acabasse tudo. mas a hora do almoço foi se aproximando, minha fome foi aumentando e eu sabia que a única comida que eu poderia preparar, por causa do tempo, seria um miojo. fui me segurando, mas a fome começou a atrapalhar o trabalho. sabe quando o zeca urubu olha para o pica-pau e vê um frango assado? eu olhava para as palavras e, em vez de "a voz", lia "arroz". assim foi até que decidi não fazer o miojo e ligar para a minha mãe. em casa de mãe sempre tem comida e sempre tem comida gostosa. ela não estava, disse a moça que trabalha com ela, mas tinha feito um cuscuz enorme.
lá fui eu, filar boia na minha mãe: o melhor cuscuz que já provei. ela diria que é a fome que faz a gente achar tudo gostoso; eu diria que é comida de mãe não tem igual.

segunda-feira, 26 de março de 2012

dia #8 - helô

se você está no trânsito em itapecerica da serra, vai se sentir como se estivesse em qualquer parte da índia. é sério: cachorros, cavalos, carros, bicicletas, pedestres, carrinhos de sorvete e de açaí, tudo junto e ao mesmo tempo. algum carro te fecha pela direita, uma moto estoura o escapamento para chamar atenção, um carro toca funk no último volume achando o máximo ouvir o anasalado "eim, seiqueláseiquelá, eim, não sou de ninguém, não sou de ninguém" ou a música que o neimar dançou [que saudade do pagodinho da vassoura! haha]. é, não tem nada de mágico nesse quadro.
mas hoje, no meio do caos, depois de xingar mentalmente uma pessoa que me fechou pela direita e que ouvia o "eim!", passou bem no para-brisa do carro uma borboleta branca e azul-clara do tamanho de uma palma e meia da minha mão. era linda, nunca tinha visto uma borboleta tão grande. quando cheguei no escritório, vi outra igualzinha, da mesma cor, nem acreditei. depois apareceu uma amarela toda desenhada, outra preta com azul metálico e branco, e fiquei pensando em como elas conseguem ser tão bonitas e em como elas são tão perfeitas para representar as nossas mais profundas mudanças.

dia #8 - Carlos

Sempre gostei de escrever. Há, aproximadamente, um ano e meio, escrevi um texto que começa assim:

O que impede um homem de escrever suas memórias? Talvez a falsa impressão de que só as memórias de grandes estadistas, artistas, escritores e pessoas que viveram alguma experiência invejada ou fora do comum para a maioria das pessoas devam ser contadas. Mas se são as memórias a única coisa que nos resta da vida (em vida, já que a memória da nossa morte não nos pertence, mas pertencerá aos que conviveram conosco), a quem é dada essa tarefa de julgar quais memórias merecem eternizar-se e quais devem ser entregues ao esquecimento?

Hoje, tendo que ler artigos e livros sobre História Oral, li o trecho abaixo, extraído da revista Projeto História, #15, da PUC:

“O respeito pelo valor e pela importância de cada indivíduo é, portanto, uma das primeiras lições de ética sobre a experiência com o trabalho de campo na História Oral. Não são exclusivamente os santos, os heróis, os tiranos – ou as vítimas, os transgressores, os artistas – que produzem impacto. Cada pessoa é um amálgama de grande número de histórias em potencial, de possibilidades imaginadas e não escolhidas, de perigos iminentes, contornados e por pouco evitados. Como historiadores orais, nossa arte de ouvir baseia-se na consciência de que praticamente todas as pessoas com quem conversamos enriquecem nossa experiência.
Alessandro Portelli

As respostas para perguntas e inquietações de um ano e meio atrás, ou mesmo de muito tempo antes, estavam no futuro (o hoje e o amanhã) e eu nem tinha como saber. A verdade é que a vida responde tudo ao seu modo, no seu tempo, mostrando que o que nos move adiante são dúvidas, nunca certezas. Quem diria! Algo que escrevi sem compromisso, tornou-se objeto de interesse, de estudo e responsável por fomentar o futuro.

Coincidência (?).

domingo, 25 de março de 2012

dia #7 - Carlos

Depois de duas semanas que me surpreenderam pela quantidade de coisas que fui capaz de fazer, o corpo reclamou um descanso que foi muito bem-vindo.

Repouso e boa alimentação. É o que todos costumam recomendar quando estamos gripados. Levei tão a sério a recomendação que, hoje, quando não estava comendo, estava dormindo. Acho que posso contar nos dedos de uma mão as horas que passei acordado.

Na perspectiva de magia do Mestre Hsing Yün, autor do livro que inspirou a Helô a criar o blog, não seria o alimento e o repouso poções mágicas que revitalizam o corpo e o preparam novamente para a jornada de um novo dia?

Depois do dia de hoje, não me resta dúvida de que isso é a mais pura verdade.

dia #7 - helô

hoje foi um dia pacato em que tudo foi feito sem pressa. acordar, comer, ver os passarinhos, conversar, cozinhar, ver o seriado que não vi ontem, comer, tentar ver um filme, dormir de novo, acordar, comer e escrever no blog. domingo é o dia do descanso da mente e do corpo, sem compromissos. 
mas temos o compromisso, conosco mesmos, de escrever aqui. e essa experiência do "mágicas cotidianas", como disse ontem para a dani ao telefone, tem sido uma prática de disciplina que tem me feito muito bem. cada vez que acabo de escrever um texto e o posto, sinto uma sensação de dever cumprido, de dia aproveitado, de vida aproveitada. fico imaginando que legal que será reler tudo isso daqui a 358 dias. o carlos e eu teremos um registro de tantas coisas boas que nos aconteceram e que talvez, depois de um tempo, nem nos lembrássemos. :) 
p.s.: que a energia da selenita [obrigada, bethy] esteja com todos em mais uma semana.

sábado, 24 de março de 2012

dia #6 - Carlos

– Esse tema vai dar um ótimo trabalho – anotei as palavras da professora que, gentilmente, todo sábado, tem aberto mão de 30 minutos do seu horário de almoço para me orientar, esclarecendo as muitas dúvidas que o meu projeto de mestrado tem suscitado.

O convívio com pessoas esclarecidas, cultas, educadas e, principalmente, equilibradas na forma como colocam suas opiniões e pontos de vista são um privilégio do qual tenho tirado valiosas lições. O elogio que eu gostei tanto de receber, só teve o valor que dei porque veio depois de eu ter cumprido aquilo que tinha me proposto; não alimenta vaidade de nenhum tipo, apenas aponta que devo continuar, me cercando daqueles que estão dispostos a compartilhar aquilo que sabem, sem mesquinhez ou arrogância.

Iniciar novas buscas, deixar outras em aberto e encerrar, mesmo que temporariamente, aquelas que deixamos de acreditar, é reconhecer que tudo tem o seu tempo.
É hora de historiar.

dia #6 - helô

um dia não planejado que é ótimo é ainda melhor que um dia planejado que tem tudo para ser ótimo.
hoje foi assim. meus planos eram acordar um pouco mais tarde, ver um pouco do novo seriado em que me viciei, fazer o que tivesse de fazer em casa e trabalhar um pouco.
mas os não planos foram mais fortes e boa parte do plano não foi executada. acordei um pouco mais tarde [ok!], vi um epísódio do seriado [ok!] e fui passear com a minha mãe! fazia um tempão que não saíamos juntas e foi muito divertido.
entramos em todas as lojinhas de artesanato do embu, fiquei povoada de ideias e, quando entramos em uma loja cheia de pedras, uau! a espada de jedi estava lá!
vou explicar: minha irmã ana tem uma pedra que eu sempre achei o máximo e que é muito mágica, limpa a aura, tira pesadelos e mais um montão de coisas que eu não lembro. ela me disse o nome, mas eu não guardei porque no momento em que ela falou eu a nomeei "espada de jedi". então hoje, flanando pela cidade, encontrei a bendita pedra [sem plaquinha que a nomeasse] e, claro, a comprei!
agora a força também está comigo!

sexta-feira, 23 de março de 2012

dia #5 - helô

adoro cozinhar e, depois que me casei, tomei ainda mais gosto em experimentar receitas. sou viciada em livros de receitas, em revistinhas "Ana Maria", em livrinhos da União, o que acho que foi resultado de ver minha mãe cozinhar e, também, de trabalhar com livros de gastronomia por um tempo.
sexta-feira é o dia que eu aproveito para cozinhar, pois tenho o luxo do tempo e da falta de pressa para preparar alguma coisa gostosa.
hoje fiz escondidinho de estrogonofe, uma receita que tirei do meu site de receitas preferido, o Na minha panela. todas as receitas que faço baseadas nesse site me rendem, além do prazer de fazê-las, muitos elogios por causa da apresentação dos pratos e, claro, porque são muito gostosas.
olhem só o resultado [não sou fotógrafa :)]

dia #5 - Carlos

A memória é a única maneira de visitarmos o vivido, e só conseguimos reavivar as lembranças partindo de algo que nos remeta ao passado. A notícia da morte do Chico Anísio fez isso comigo.

Quando eu era criança, meu pai foi sócio, por pouco tempo, do Círculo do Livro, tendo que adquirir, mensalmente, no mínimo um livro. Nessa época eu só lia livros infantis recheados de ilustrações e não conhecia livro algum pelo nome do autor, até que um dia meu pai chegou do trabalho com Carapau, do Chico Anísio. Esse cara eu conhecia. Tentei ler o livro. Dei algumas risadas com uma página ou outra que descrevia um homem gordo que sofria de flatulência, fiquei intrigado com alguns palavrões que eu não conhecia o significado e, por fim, não tive fôlego para terminar o livro. Muitas vezes entediado dentro de casa, tornei a folhear suas páginas, até que o li por inteiro, descobrindo o Brasil, que, futuramente voltei a encontrar em livros do Jorge Amado e nas histórias dos meus familiares nordestinos... um país pitoresco.

Nunca tive uma aula de história no ensino fundamental ou médio sobre o coronelismo (se tive, foi tão inexpressiva que nem me lembro), mas tenho certeza que aprender sobre o Brasil oligárquico com a irreverência do Chico Anísio foi muito bom.

quinta-feira, 22 de março de 2012

dia #4 - Carlos

Sempre fui resistente com a ideia de praticar alguma atividade física. O caratê, que pratiquei na adolescência, foi deixado de lado depois de um afastamento forçado por conta de uma pancada na canela – seis meses de repouso que estendi para o resto da vida. O skate e a bicicleta já foram meio de transporte, nunca esporte. Até que a decisão de parar de fumar, e a descoberta de que herdei da família uma coluna que mais parece o S do Senna, naturalmente me levaram até uma academia.
Depois de alguns meses treinando, hoje resolvi ouvir o conselho do professor: concentração, respiração e ritmo. Aceitei que não sabia respirar. Passei a respirar seguindo uma contagem silenciosa que fiz em cada exercício e, pasmem, descobri que tenho mais força e energia do que acreditava ter.
Poderia ter aprendido isso com algum mestre Miyagi na época em que treinei caratê, mas não, só consegui arrancar energia do ar em meio a halteres e tendo como trilha sonora uma música que foi sucesso em alguma danceteria na década de 90 – mais zen impossível.

dia #4 - helô

trabalho sozinha e quieta a maior parte do dia. o que para muitos seria puro tédio, para mim é perfeito. claro que sinto falta de trocar ideia com gente inteligente, até de passar um nervoso com o trabalho [às vezes], mas eu gosto do silêncio para trabalhar.
quando trabalhava em empresas, a primeira hora depois do almoço sempre fora a mais complicada. que baita sono que me dava, nem café segurava! então eu dava uma disfarçada e ia dormir no banheiro. sim, é vergonhoso, mas era o único lugar em que eu podia dormir no trabalho. agora, trabalhando sozinha, continuo tendo o mesmo sono e já dormi sentada na cadeira algumas vezes, o que me deixava tensa: "e se alguém chegar?", eu pensava, que vergonha...
há algumas semanas, tive a brilhante ideia de pendurar uma rede no escritório. mas a rede ficou muito grande e, quando eu sentava, ela arrastava no chão. então, hoje, cansada de não poder tirar uma soneca no trabalho, dei mais um nó na rede e, voilà!, tirei minha primeira sesta sem culpa nem vergonha. e foi muito boa.

quarta-feira, 21 de março de 2012

dia #3 - helô

à noite, enquanto eu esperava minha carona de volta, fiquei sentada em silêncio observando a árvore que minha mãe [os meus pais, não sei bem quem] plantou.
lembrei de que era um raminho de uma primavera fúcsia que minha mãe tinha ganhado. hoje, passados muitos anos [mais de vinte], a primavera é enorme: tem uma ramificação de troncos e galhos que se enroscam e cobrem todo o canteiro onde ela mora. os galhos têm espinhos fortes, mas ela é tão bonita que toda foto de classe inteira é tirada lá na sua frente.
então, eu comecei a pensar em como nossa vida é parecida com essa árvore, o que pode parecer um clichê e é. éramos mudas. vamos nos enraizando e nos desenvolvendo [para cima e para o lado, rs]. conhecemos muitas pessoas no decorrer da vida, umas engalham para um lado, outras para o outro, mas nunca deixam de fazer parte de nós, deixaram um nozinho no nosso tronco. e também tem as pessoas que ficam para sempre por perto, que fazem parte do mesmo tronco e do mesmo galho e, com elas, compartilhamos nossa vida diária.
e dáí, fiquei pensando no dia hoje. e tem uma pessoa que há pelo menos doze anos faz parte da minha vida, mas de longe. mesmo que nos falemos esporadicamente, eu a considero minha amiga e acho que ela pensa o mesmo. a empatia que senti por ela quando a conheci foi imediata e até hoje, no pouco que nos falamos, eu sinto que ela faz parte do meu caminho por essa vida. essa pessoa pode ser o passarinho que visita a árvore e ela tem nome que rima com mágica: lana lim, sinsalabim!

dia #3 - Carlos

Um grupo de uma turma do Ensino Médio apresentou hoje um trabalho sobre o teatro grego. Fui surpreendido por uma maquete virtual em 3D – foi assim que eles definiram o trabalho – projetada num telão. Um aluno operando o computador conduziu toda a sala por um passeio pelo palco, por dentro dos camarins, do terraço e pelos assentos da plateia.
Deslumbrado com o que vi, entendi como é vã a tentativa daqueles que, aterrorizados diante do futuro que não compreendem, se esforçam para conservar o mundo como lhes foi apresentado.
Um trabalho escolar que até pouco tempo se limitaria a uma cartolina ou uma maquete, hoje é o espelho de uma geração que dialoga com o mundo à sua maneira, provando que o mundo é construído pela inconstância, pela reinvenção das maneiras como lidamos com antigos problemas ou, melhor ainda, pela inovação. Os confrontos geracionais continuarão a existir e o novo sempre há de sair vencedor, tornando únicas as experiências vividas, mesmo quando elas são a solução para antigos problemas.

terça-feira, 20 de março de 2012

dia #2 - Carlos

Precisei ir para São Paulo. Era o fim da tarde, o sol se punha e o ar fresco de Itapecerica da Serra entrava pela janela e amenizava o calor no interior do carro. Ao lado da entrada do condomínio Royal Park, duas jovens, depois de terem deitado suas bicicletas sobre a grama recém-cortada, chupavam cada uma um picolé e jogavam conversa fora com largos sorrisos nos rostos. A cena, comum aos domingos no Ibirapuera ou em um parque qualquer, era um recorte precioso da leveza da juventude – que não se importa com o dia da semana, o horário comercial ou o vaivém constante de carros na Estrada de Itapecerica.
Começou a tocar no rádio Aquele Abraço. As meninas despediam-se do último dia de verão e recebiam o outono da melhor maneira que se pode fazer: celebrando a vida.

dia #2 - helô

num domingo assisti ao filme. numa segunda ganhei o livro.

o filme é lindo, me tocou fundo, queria que tudo aquilo fosse verdade e que eu estivesse de sereia ou lagosta por lá.

o livro, virou meu cinema portátil. fiquei tão feliz com o gesto amigo do professor alessandro, parceiro do marido na escola! foi uma delicadeza ter pensado que eu poderia gostar de um livro que falasse da frança. mal sabe ele que fiquei igual criança com brinquedo novo, folheando, folheando, folheando...

hoje estava folheando mais uma vez o livro, lendo trechos, e fui buscar a cena em que monsieur georges fala com um menino que está assistindo à filmagem de um de seus filmes e, sem saber, ele determina o futuro profissional do garoto. ele então fala:


"Se algum dia você já quis saber de onde vêm os sonhos quando você está dormindo à noite, basta olhar ao seu redor. É aqui que eles são feitos." [Brian Selznick, em A invenção de Hugo Cabret, editora SM]

segunda-feira, 19 de março de 2012

sobre as mágicas cotidianas

a ideia do "mágicas cotidianas" veio da lembrança de uma leitura que o carlos fez para mim, há muitos anos, de um livro budista que falava sobre magia e sobrenatural. sempre gostei de saber sobre os mistérios das coisas, os inexplicáveis poderes mágicos que bruxas, magos, índios e o paulo coelho tinham. mas quando ele leu o primeiro trecho daquele livro de capa cáqui, vi que conhecia e decifrava a magia de que o mestre falava; ela só dependia de mim e de como eu direcionava meu pensamento e meu olhar para as pessoas, para as coisas, para as situações, etc.

metafísico demais? poliana demais? budista demais? garanto que não. serão pequenas delicadezas.

para não ser engolida pela feiura que às vezes se apossa do cotidiano, fiquei pensando, então, no quanto é importante treinar o olhar [e o espírito] para coisas legais que acontecem em um dia. convidei o carlos para esse treino e resolvemos estender essa experiência de ver as "mágicas cotidianas" para 365 dias. esperamos que gostem.

p.s. — o trecho do livro de que eu me lembrei foi este:

"Visto que a magia está tão estreitamente relacionada a nós, como podemos conquistar poderes mágicos? Como devemos usar esses poderes? Devemos avaliar o verdadeiro sentido e as assombrosas aplicações da magia diretamente em nossa vida. Por exemplo, quando olhamos belas flores, um prado verdejante ou a lua no céu, nosso espírito se eleva naturalmente e se enche de alegria. Isso não é mágico? Quando queremos agradar uma pessoa, nós a elogiamos e ela fica radiante. Se dissermos as palavras erradas, no entanto, ela pode, em vez disso, brigar conosco. Essa não é a magia da linguagem? As emoções humanas, como a felicidade, a raiva, a tristeza e a alegria, não são todas mágicas? [...] Se formos observadores, descobriremos que nossa vida cotidiana é mágica. Acontece apenas que, se estivermos desatentos, a magia deixa de ser assombrosa." — Mestre Hsing Yün, em A perspectiva budista sobre magia e sobrenatural, p. 32-34.


dia #1 - Helô

a casa limpa, arrumada, cheirando à aroma semelhante ao natural de lavanda. acendo a luz, vou fechar a porta da lavanderia e lá vejo os passarinhos olhando para mim sem fazer aquele barulho estranho "chiii, chiii": me reconheceram. sorrio.

dia #1 - Carlos

Esse blog, antes de qualquer coisa, é um espaço para eu exercitar o meu olhar para aquilo de belo que os dias me reservam. Uma tarefa diária para os próximos 365 dias.

dia #1 - Carlos

O sinal soou pelo corredor, as portas se abriram e as crianças afoitas buscavam se desvencilhar dos colegas, das mochilas e alcançar o pátio, onde correriam desimpedidas. Coloquei os diários debaixo do braço e me juntei ao pequeno cortejo. Antes que eu desse alguns passos, tive minha atenção chamada por um braço estendido entre uma criança e outra.
– Toca aqui professor! – a mãozinha era a do mesmo garoto que, na sexta-feira, ao me chamar de “cara”, fora advertido. “Cara? Como assim? Sou seu professor, rapaz!” “Ô, professor, eu sei. Só falei porque você é, tipo, meu melhor amigo”, palavras que tiraram o meu chão e me levaram a, subitamente, abraçá-lo.
Toquei a mão do garoto, abri um sorriso e disse:
– Tudo bem, amigão? – e continuei a pensar até agora, como é bom ter um, tipo, melhor amigo!